A alma e a lama de um
rio
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A
natureza com espelho de uma sociedade.
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E por fim as aguas de um rio,
banhadas ou não, em um momento elas chegam ao mar. É o destino dos rios. E é
por todos os componentes minerais, carreados das terras por onde passam os rios,
que o mar se torna salgado, uma aglomeração de sais carreados das terras. Um
dia na história do Brasil, sertanistas e exploradores, descobriram um rio e o
batizaram de Doce. Rio que serviu de estrada para o mar, a partir das Minas Gerais.
Terra do nariz comprido, o mapa lembra um rosto de perfil, com o nariz comprido.
Ao longo de suas margens muitos já tomaram banhos, e muitos lavaram suas almas
e suas roupas. E o rio levou histórias da sua nascente, dos seus afluentes, e
do seu percurso, até o mar capixaba.
Com o velho truque de
convencimento da superação, da saída do Terceiro Mundo, o país, passou a
explorar o seu conteúdo, nas suas margens e à sua volta. E com minério de ferro
a preço de ninharias, por ser um produto não beneficiado e não industrializado,
o Brasil encheu navios graneleiros, abastecendo o mundo. A promessa de um novo
Brasil pela exploração dos seus recursos minerais. Depois chegou a história de
agregar valor, novas promessas e novas ideias, o incessante e inatingível incansável
desenvolvimento. A velha mentira. E o Velho truque da dominação simbólica *.
Uma mineradora em busca de
lucros estabeleceu-se ali, em nome do desenvolvimento. E denominou-se companhia
mineradora do vale do Rio Doce. O rio que era calmo e doce se deixou ser
explorado. Uma estrada de ferro foi criada em direção a Vitória/ES, onde o
minério seria embarcado. Ferrovias em direção ao Rio de Janeiro, também levaram
o minério em direção a portos. E em Volta Redonda uma siderúrgica foi criada, a
meio caminho do minério e meio caminho do combustível de seus fornos e suas
caldeiras. Um ponto estratégico de segurança nacional, a denominada Cidade do
Aço.
Novas almas foram lavadas nas
aguas daquele rio. As almas dos donos das mineradoras em nome do
desenvolvimento. Almas de multinacionais, almas de transportadores terrestres e
marítimos. Almas de outros povos do outro lado do mundo. Usufruíram de produtos
denominados de bens duráveis, em nome de um expurgo. Transformaram o minério de
ferro em chapas de aço. Construíram carros, ônibus e caminhões; fogões, freezers
e geladeiras. Criaram um conforto de transporte e no lar. As sujeiras das almas
lavadas, surgiram em forma de lama.
E o Rio que era Doce, ou que
não era, acabou-se. Uma represa de rejeitos minerais rompeu-se junto com o
rompimento da confiança no governo atual. Lamas foram reviradas, rompidas e
descobertas. Até então estavam escondidas e armazenadas. Uma avalanche de almas
e de lamas, seguiu o curso do rio em direção ao mar. Na tentativa de cumprir
seu ciclo, da água, e renovar.
O litoral será afetado pelos
depósitos de detritos ao logo da faixa costeira. E o mar será afetado mudando o
comportamento de animais marinhos, que deverão mudar suas rotas de migrações,
causando prejuízos a fauna e a flora, e acontecimentos inesperados, não
calculados.
A natureza trama
silenciosamente suas revoltas e suas manifestações, depois de longos anos sendo
agredida e modificada, pelas mãos dos homens em busca de lucros, com o que
retiram da terra, com objetivos únicos do lucro. A natureza com espelho de uma
sociedade.
Em 15/11/15
Entre Natal/RN e
Parnamirim/RN
por
Roberto Cardoso (Maracajá)
Reiki Master & Karuna Reiki Master
Jornalista Científico
FAPERN/UFRN/CNPq
Plataforma
Lattes
Produção
Cultural
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